Respeitosas reverências a todos.
Vaisnavas e Vaisnavis.
Antes de mais, gostaria de dizer que este debate está sendo muito enriquecedor, pelo menos para mim, e quero parabenizar todos os participantes pela forma muito educada com a qual se tem manifestado.
Sim, é dever da ISKCON instituir Gurukulas e Colégios Varnasrma Multidisciplinares para treinar os diferentes Varnas e determinar o Varna de cada pessoa como desejado por Srila Prabhupada, para que o A Daiva Varnasrama seja estabelecido.
Mas também é nosso dever, de cada um de nós, após recebermos este treinamento ocuparmo-nos devidamente, e "irmos a luta" como bem evidenciado por Gopala Prabhu.
Vosso servo
Prahladesh Dasa
Como estabelecer o Varna
No Jaiva Dharma, Srila Bhaktivinoda Thakur no capítulo 6 Nitya Dharma Jati Varnadi Bheda - Religião Eterna e Diferenças de Castas, cita todos os critérios enumerados como no Bhagavad Gita 18.42,43,44.(Ver o verso citado acima), bem como os critérios para estabelecer os Candalas (Comem carne, bebem vinho, etc).
Para determinar se alguém está apto para um determinado Varna, deve-se examinar sua natureza e qualidades de acordo com estes critérios.
Jiva Gosvami e o Daiva Varnasrama
Jiva Gosvami e a Identificação do Varna
Jiva Gosvami, um dos grandes Acaryas da nossa sucessão discipular, recomenda que examinemos a motivação que faz com que alguém se aproxime do Movimento da Consciência de Krsna.
Na sua sociedade de Vaisnavas, Jiva Gosvami junto com outros líderes costumavam entrevistar aqueles que se aproximavam da Consciência de Krsna e perguntavam-lhes porque queriam render-se à Krsna.
Se respondessem que estavam aflitos, isto indicava que estavam na categoria de Sudras.
Se estivessem à procura de dinheiro, isto indicava que estavam na categoria de Vaisyas.
Se estivessem simplesmente curiosos sobre o que se estava a passar, isto indicava que estavam na categoria de Ksatriyas.
Se estivessem à procura de conhecimento, isto indicava que estavam na categoria de Brahmanas.
As quatro ordens da divisão social correspondem às quatro classes de pessoas piedosas que se rendem à Krsna.
Portanto, no Daiva Varnasrama, os responsáveis do Projecto naturalmente e muito rápido determinam como os membros da comunidade serão ocupados.
Alguns serão ocupados em actividades Brahminicas, outros em actividades Vaisya, outros Ksatriya e outros em actividades Sudra.
Ninguém é designado ou chamado desta forma, mas simplesmente ocupam-se de acordo com suas propensões naturais e sentem-se muito felizes por isto.
Todos estão contribuindo para um todo e sentem-se membros da comunidade, e não há graduação de Status.
Neste sentido, podemos dizer que na verdade Daiva Varnasrasma e mesmo A Daiva Varnasrama, organiza uma sociedade sem classes, pois todos tem um objectivo comum, que é satisfazer o Senhor Supremo.
No Daiva Varnasrama, em casos emergenciais, alguém poderá ocupar-se num Varna que não é o seu.
Um Vaisnava é capaz de executar qualquer tarefa para satisfazer à Krsna.
No entanto, de um modo geral, todos estão ocupados de acordo com suas propensões naturais.
No caso do A Daiva Varnasrama que ainda não está estabelecido, a determinação do Varna é mais complexa, e requer um observação mais aprofundada dos Dharma Sastras.
Mas, Srila Prabhupada estabeleceu como isto seria feito.
No Gurukula, isto seria feito para as crianças.
Numa idade mais avançada no Colégio Varnasrama.
Hrdayananda: Como isto é diferente do Gurukula?
Prabhupada: Gurukula é somente para as crianças pequenas. Preliminar, primário. E quando as crianças crescem, devem ser enviadas para o Colégio Varnasrama para um treinamento posterior.(Vrndavana, 12 de março de 1974)
O Colégio Varnasrama é, de acordo com Srila Prabhupada, como uma Escola Técnica.
Prabhupada: ...Colégio Técnico. Da mesma forma, este é outro Colégio, Colégio Varnasrama.
Satsvarupa: Para o público em geral?
Prabhupada: Ah? Sim. Assim como um Colégio Técnico esta aberto para todos. Este Colégio deve estar pronto para oferecer treinamento. Da mesma forma, esta Colégio Varnasrama, deve estar pronto, o estudante, deve estar pronto para ser treinado. Temos muitos Sannyasis, eles devem ensinar.
O ensino deve ser feito pelos Sannyasis. Assim como numa Escola Missionária, os Padres ensinam.(Vrndavana, 12 de Março de 1974)
Caro Prabhu Karuna,
Minhas reverências,
Todasas glórias a Srila Prabhupada!
Por favor, também me permita, numa tentativa de ajudar a "estabelecer a conclusão apropriada", fazer algumas reflexões e cometários. É importante frisar que estamos entre amigos, valorizamos e admiramos sua participação, e nosso desejo é apenas o de trocar idéias, num espírito fraterno, como em qualquer fórum.
Nesse sentido, aí vão as reflexões e comentários:
1- Esperar que pessoas de cultura predominantemente urbana passem simplesmente a ser rurais de um momento para o outro, só porque existe essa possibilidade, seria uma conclusão apropriada?
2- É natural que os sudras busquem proteção e abrigo nas classes superiores. Mas esperar que a ISKCON, enquanto instituição, se torne um tipo de mega corporação que possa empregar todos os sudras (ainda mais em apenas 40 anos, 30 no Brasil) seria uma conclusão apropriada?
3- Se considerarmos a ISKCON do ponto de vista de Sociedade (grande variedade de instituições especializadas, e mesmo assim muitos membros não "empregados" em nenhuma delas), esperar que todas estas instituições e indivíduos já estivessem plenamente formados e desenvolvidos na segunda geração (discípulos dos discípulos de Srila Prabhupada) seria uma conclusão apropriada?
4- É natural que sudras ofereçam seus serviços. Agora, supor que no meio rural (está se falando de comunidades rurais) houvesse:
a) uma "vaga de emprego" em um "cargo" que abrangesse, ao mesmo tempo, "ensino de idiomas, tradução, administração e sacerdócio", e que
b) rendesse tanto ao seu empregador que permitiria a ele pagar tão bem e com tantos benefícios que,
i) além de garantir moradia digna, vestuário e boa e saudável alimentação, ainda
ii) agregasse uma boa "apólice de seguros" e "assistência médica" (para situações de emergências) e iii) uma boa aposentadoria (para a terceira idade),
seria uma suposição razoável? Não seria mais razoável supor que não exista esse tipo de cargo, nem na ISKCON nem em qualquer outra instituição e lugar do mundo?
5- Por outro lado, se estamos falando de brahmana (atividades intelectuais como tradução e ensino, e sacerdotais como pujari), não seria mais razoável esperar do brahmana que se tornasse empregador, ao invés de empregado? Isto é, dar cursos de idiomas e outros, ou abrir um Templo na comunidade, e dessas atividades se autosustentar e sustentar, se fosse o caso, seus auxíliares sudras? E que estivesse, com seus ganhos, se organizando para cuidar das suas questões assistenciais e previdenciárias, ao invés de esperar que outros cuidassem desses aspectos de sua vida por ele?
6- Agora, se estamos falando de ksatrya (administrador), não seria mais razoável esperar do ksatrya que estivesse, por exemplo, por sua própria iniciativa, organizando e administrando Projetos para a Comunidade, e obtendo daí ganhos para seu sustento, assistência e previdência, ao invés de esperar que outros cuidassem dele e de seus anseios?
7- Agora, o ponto que, talvez, seja o mais interessante: uma pessoa com tantas preocupações com seu bem estar e o dos seus, não demonstraria, ainda que inconscientemente, uma predominância do varna vaisya? O varna de brahmana apresenta, em geral, mais desapego das condições e confortos materiais. O varna de ksatrya tem muitos apegos, mas a disposição para correr riscos e enfrentar desafios é maior do que o que foi desmostrado. E a preocupação com os meios produtivos é típico dos vaisyas.
Não seria razoável concluir que uma busca mais adequada seria por uma comunidade onde pudesse abrir um negócio próprio (produção, transformação e/ou comércio) e, com os ganhos advindos, pagar um plano de saúde e uma previdência privada?
Esperando ter contribuído com o debate,
Seu servo,
Gopala Dasa (HDG)
Recife-PE - Brasil
Em 02 de fevereiro de 2009.
Hare Krishna!
Todas as glórias a Srila Prabhupada!
Reverências!
Certamente, caro Gopala Dasa, o senhor tocou num ponto central. Devemos refletir antes de qualquer conclusão precipitada. Temos muitas experiências com este tipo de atitude. Suas colocações foram pontuais para ativarmos positivamente nosso debate.
Mas, o ponto é: Viver para a Iskcon ou Viver da Iskcon*?
Pragmatismo ou visão filosófica?
Fazer algo para, ou aproveitar-se do que já foi feito?
Como seres humanos somos seres produtivos. Cada qual em seu varna produz o que pode. Como devotos devemos produzir o que sabemos e podemos dentro das diretrizes de Srila Prabhupada, dentro ou fora de uma comunidade, mas em cooperação e harmonia com o Yatra a que se pertence.
Seu servo,
Jayadvaita Das
