Querido amigo Jagad Bharta,
Aceite minhas reverências.
Todas as Glórias a Srila Prabhupada !
Muito esclarecedor este seu e-mail. Esclarecedor para esta e as discussões
anteriores.
Srila Prabhupada é claro e enfático. Não se trata de interpretar sobre o
"Não matarás ou o não assassinarás". O problema está resolvido:
é sobre comer carne ! Ponto final !
Quem come carne está em ignorência e, assim, todos os aspectos de
sua vida, incluindo sua religiosidade, também está em ignorância.
Existe essa opinião aparentemente conciliadora de que não devemos
criticar, pregar de forma incidente ou forte para os cristãos sobre o comer de
carne porque o livro deles ou a religião deles assim o permite.
Seguindo este mesmo ponto de vista também não podemos criticar ou pregar
forte para os rastafaris porque a religião deles permite o uso de maconha.
Imagine que aos muçulmanos é permitido usar sexualmente (sem
penetração) uma menina com idade a partir de um dia de nascida !
Essa é uma prática conhecida entre os muçulmanos como mufa’khathat.
Assim não podemos criticá-los ou pregar fortemente contra isso porque a
religião deles assim o permite !
Nem podemos criticá-los com base nos Vedas, por que eles seguem seus
próprios livros e só por isso devemos "respeitar" e nos calar diante do
comportamento deles.
Ora, ora, ora...se não criticarmos estas coisas é porque...estamos ficando
iguais a eles !
Meu querido amigo, KALI-YUGA é muito perigosa. As pessoas são
dissimuladas e plenas de hipocrisias. Claro, só que hoje em dia o
supra- sumum da hipocrisia se chama "politicamente correto".
Em nome do politicamente correto e do falso respeito ao próximo
devemos concordar e, assim, ficar de bem com todo mundo.
Política da boa vizinhança, pragmatismo...falso ecumenismo.
O verdadeiro ecumenismo acabou, faz muito tempo. Para quem não sabe,
foi no final da Dwapara-yuga e no início da Kali-yuga. Foi aí, que acabaram-se
as idéias realmente conciliatórias e teve início a Era das Desavenças, onde
tudo é baseado no falso-ego.
Sob a desculpa de que no Krishna-katha temos muitos bhaktas que ainda
não entendem ou não aceitam tudo, ou ainda, porque não são plenamente
rendidos, então, por esse motivo, não devemos pregar ou conversar
livremente sobre o fato de que esses desvios são criticáveis?
É compreensível que tenhamos nossos apegos, nossos desejos etc.
Mas não nos é lícito que tenhamos medo de falar a Verdade, em especial,
quando essa Verdade seja a palavra de Sri Krishna ou de Seu representante
genuíno.
Um aspecto em toda essa discussão é positivo: NÃO devemos criticar por
criticar as pessoas que, mesmo no modo da paixão ou da ignorância,
sigam um determinado sistema religioso compatível com seu guna.
Devemos evitar toda a crítica desestimulante ou que leve à perda de fé.
Entretanto devemos e podemos criticar quando, logo em seguida,
mostrarmos o caminho correto (védico) a ser seguido.
Nunca criticar pesadamente as pessoas, mas sempre criticar as más
atitudes e os maus hábitos impeditivos do avanço espiritual. A seguir,
devemos orientar sobre o bom agir e sobre as glórias do cantar dos Santos
Nomes e do Serviço Devocional em bhakti-yoga.
Esse é o verdadeiro respeito, a verdadeira compaixão.
Eternamente seu,
Jayadeva das.
aqui, em Recife,
Aceitem todos minhas reverências.
Todas as Glórias a Srila Prabhupada.
Minhas reverências e agradecimentos ao nosso querido
Sriman Advaya Prabhu, por ter trazido esse assunto para
apreciação neste fórum Krishna-katha.
Entendo muito bem e compartilho de sua preocupação
inicial para que não falemos mal, sobre outras pessoas.
Falar por falar, não é sempre bom, mas, aqui, deixarei
algumas idéias que possam instigar uma outra visão do
assunto.
E por falar em telhados...
Em toda essa discussão sobre telhados de aço (e telhados de vidro), acho que foi o Praladesh Pabhu que tocou, de leve, no assunto. Que ele me permita expandir algumas considerações mais, sobre esse tópico.
Há uma diferença muito grande sobre os desvios individuais e as posições oficiais ou tolerantes de uma instituição. Quando uma instituição, religiosa, política, profissional, de classe etc., mantém em sua doutrina, seu estatuto, regimento interno ou em suas regras e regulamentos, determinações sobre o que pode e o que não se pode fazer, ao infringir essas normas consideramos que o erro foi cometido tão somente pelo indivíduo infrator e sobre ele recai toda responsabilidade. Mas quando a instituição é permissiva, é sobre ela que paira a responsabilidade sobre os erros cometidos.
Não é objetivo principal da bhakti-yoga fazer com que os princípios regulativos sejam observados, embora eles sejam conducentes a um nível no qual um grau de pureza compatível com a possibilidade do passo seguinte, que é o desenvolvimento de prema ou amor a Krishna, que é o objetivo principal. A observância de não comer carne, peixes ou ovos (não matar), não se intoxicar, não praticar jogos de azar e sexo ilícito, eleva o praticante (sadhaka) a um nível de pureza e o torna receptivo às sutilezas inerentes à Consciência de Krishna e é exatamente isso que a ISKCON (como instituição) ensina e preconiza.
Qual outro grupo religioso ensina ou determina a observância desses quatro princípios simultaneamente?
É um fato que o que contamina a pessoa é o que sai de sua boca e não o que entra...emboratambém seja igualmente verdadeiro que o que entra determina e motiva o que sai. POR EXEMPLO: Por causa da carne que entra em suas bocas eles são levados a dizer que os animais não têm alma espiritual dentro de seus corpos.
Quanto a nós, sabemos que os animais, plantas e todo ser-vivo são almas espirituais corporificadas. Exatamente por sabermos disso, respeitamos a vida desses irmãos menos avançados.
Sobre o hábito de comer carne, esta é uma atividade abominável, da mais cruel e primitiva inclinação, o que nos faz perguntar se essas pessoas já estão (psicologicamente) inseridas na classe de seres humanos elegíveis à transcendência (athato-bhrama-jijñasa). Claro que não! Quando, como e onde, comedores de cadáveres estarão preparados para entenderem os ideais da verdadeira compaixão?
Vejam como eles são especialmente devotados e amorosos com seus cachorrinhos e gatos de estimação. Os negócios envolvendo cuidados veterinários e estéticos para animais de estimação movimentam bilhões de dólares no mundo. Os ecologistas defendem com energia espécies de animais silvestres, enquanto enchem seus estômagos com os corpos de outros animais no dia-a-dia. Compaixão relativa é compaixão inferior.
Certa feita, em um darshan, um cavalheiro indiano perguntou a Srila Bhaktisiddhanta Saraswati sobre a qualidade da dieta vegetariana. Ele, entãi, respondeu a essa pergunta enfatizando a super-excelência de se comer apenas prasadam. È isso, prasadam quer dizer misericórdia, verdadeira compaixão.
Sobre intoxicação os muçulmanos seguem, mas os cristãos geralmente não. Os católicos usam vinho até em seus rituais! Papas, bispos, padres bebem e fumam abertamente. Não se trata de uma descortesia ou de uma opinião pessoal; É verdade! A uma pessoa intoxicada, alcoolizada, não é permitido executar determinadas tarefas – dirigir um carro, por exemplo. Por que seríamos condescendentes a ponto de dizer que uma pessoa que se intoxica tem condições de entender e realizar seu amor inerente por Sri Krishna, quando nem pode dirigir um carro ou executar outras tarefas mundanas?
Sobre o sexo, embora os sacerdotes católicos observem celibato, aos seguidores leigos essa atividade é abertamente franqueada. Para sacerdotes muçulmanos (aiatolás) e judeus (rabinos) ou para os seguidores leigos dessas religiões não existe uma orientação rígida dentro do casamento. Em geral há regras rígidas em relação às mulheres para proibição do sexo fora, ou antes, do casamento. Puro e descarado machismo.
Kali-yuga é uma Era de Hipocrisia!
Entre os devotos de Krishna, o celibato sempre foi enfatizado como pressuposto de uma vida limpa, dentro e fora do casamento, para rapazes e moças. Brahmachari significa, Brahma = transcendência e chari = caminhar para. Brahmachari = aquele que caminha para a transcendência ou para Brahman.
O grau de pureza e desapego é diretamente proporcional ao amor, prema, que se tem por Krishna. Quando não se tem qualidades superiores, não se pode alcançar a meta superior, Goloka-Vrndavana.
É isso que devemos saber, esse é o critério. Mas não significa que os atormentaremos com essas verdades a todo e qualquer momento. Não temos esse direito. Devemos ser gentis e compassivos. Respeitemos o estágio em que eles se encontram, embora não nos seja lícito, prescindir de orientá-los quando necessário ou de conversarmos, entre nós, devotos, sobre essas fraquezas e mazelas da sociedade materialista, quer em sadhu-sanga real ou aqui, virtualmente, neste fórum. Conversar, analisar, discriminar, sobre esses assuntos nos fortalece para nossa pregação.
Quanto a erros e enganos individuais, todos os temos, eles e nós. Criticá-los por erros individuais de seus líderes ou seguidores é esquecer que, neste caso, nosso telhado é tão de vidro quanto o deles. Institucionalmente, entretanto, nosso telhado é resistente, sim, pois faz parte de nossa doutrina, de nossos ensinamentos a observância desses quatro (e muitos outros) princípios reguladores, sobre os quais eles até se surpreendem quando por nós informados.
A verdadeira humildade significa sabermos que lá dentro de nós não estamos seguindo a Verdade. É prepotência, todavia, só aceitarmos aquelas verdades que nos convém e arrogância adequarmos a Verdade a nossos apegos e defeitos.
Os ensinamentos de Sri Krishna a Arjuna, o exemplo de Sri Caitanya e dos seis Goswamis de Vrndavana, a iniciativa transcendental de Srila Bhaktivinoda Thakur e de Srila Bhaktisiddhanta Goswami, culminam no esforço inigualável de nosso querido Srila Prabhupada. Eles nos legaram um telhado mais que de aço, um telhado forte, incorruptível, do mais fino e valioso ouro (Gaura).
Talvez individualmente alguns de nós sejamos fracos e insignificantes, mas, enquanto grupo, devemos cuidar para que nosso telhado permaneça sempre brilhante, refletindo o esplendor de nossa gloriosa SAMPRADAYA.
Espero que todos estejam bem, HARE KRISHNA !
Eternamente seus,
Jayadeva das,
aqui, em Recife.
Aceitem todos minhas reverências.
Todas as Glórias a Srila Prabhupada !
Prezado Alemão raverências...
deixe-me acrescentar algumas idéias
ao seu texto inspirador.
Atualmente existe uma má interpretação generalizada sobre o significado de Crítica ou criticar. Se procurarmos em algum dicionário o significado do termo critica/criticar teremos o seguinte:
Critica - s. f. (substantivo feminino)
1. Apreciação minuciosa; Análise, feita com maior ou menor profundidade, de
qualquer produção intelectual (de natureza artística, científica, literária, etc.);
discussão para elucidar fatos e textos = apreciação
2. Capacidade de julgar ou juízo fundamentado acerca de determinado assunto.
Neste sentido, a crítica é um julgamento de mérito que pode ser um julgamento estético - se contempla uma obra de arte, de música, um filme ou uma peça teatral; lógico, se contempla um raciocínio; intelectual, se contempla um conceito, uma idéia, obras literárias; científico, se contempla a resolução de um problema, uma teoria ou um experimento; moral e/ou ético,
se contempla uma conduta.
3. Sentido Figurado – opinião desfavorável, apreciação desfavorável, censura,
maledicência. = censura, condenação
Criticar - v.t. (verbo transitivo)
1. Examinar, analisar uma obra para salientar-lhe as qualidades e/ou defeitos.
2. Ressaltar os defeitos das pessoas e das coisas; censurar.
Notemos, portanto, que está muito arraigada entre nós a idéia errônea de que exercer a crítica ou criticar significa apenas falar mal, condenar, mostrar os defeitos. Na verdade, criticar como sinônimo de condenar, censurar denota um sentido secundário, pois, primariamente, criticar significa analisar, apreciar. Eu prefiro usá-lo no sentido de analisar, por ser também um termo empregado na Matemática, que é uma linguagem exata. Ao estudarmos o comportamento de uma função matemática, fazemos a análise de seus pontos relevantes, seus pontos críticos, que podem ser um ponto onde a função alcança um valor máximo, uma inflexão ou um valor mínimo. Esses são os pontos críticos da função. Criticar é, dessa maneira, levantar ou salientar os pontos fortes ou fracos de uma idéia ou argumentação, analisar os pontos críticos.
É digno de nota que crítica/criticar e crise são termos afins, de mesma origem (etimologia). Crise, no seu sentido original tende a implicar mudança, ruptura, separação. Crise é, portanto, uma ruptura, uma mudança brusca numa seqüência de eventos, comportamentos ou no fluir de fatos moderados por um determinado paradigma. Por que o advento da crise? Ora, todas as coisas necessitam de energia, shakti, (em quaisquer de suas variadas formas) para continuarem a existir, fluir em seqüência. Em determinado momento, pela ação do tempo (kala) toda a ação ou evento material alcança seu ápice e começa a retração ou diminuição. Neste momento há uma ruptura na seqüência do fluir natural e a isso chamamos de crise. Ocorre, então, a cisão, que é a separação (ação separada, interrompida). Quando depende de nós, a avaliação (ação avaliada) ou julgamento, fazemos então uma análise (uma crítica) e tomamos uma decisão (remendo, costura da cisão) para podermos restabelecer a ordem ou o fluir seqüencial (ordenado) do evento considerado. Assim crítica, crise, cisão são todo termos que guardam sentidos afins, pois têm a mesma origem, ou etimologia. E de onde eles vieram ? A raiz em sânscrito KR (kri) é a origem desses termos por meio das palavras em grego kreinen para critica e krisis para crise. A raiz sânscrita kri significa ruptura, separar, limpar e também significa pensar sobre, analisar, meditar, nesta acepção difere do termo dhyana, que é meditar em yoga. De crise vem o termo crisol que é um cadinho onde se prepara ou se separa os ingredientes de um composto. É no crisol que se separa a prata ou o ouro das impurezas. Só é possível obtermos o ouro, separando-o das impurezas porque conhecemos este metal em seu estado puro. Assim separamos o ouro das impurezas e comparamos com uma amostra padrão. Separar, analisar, comparar são todos sinônimos de criticar... :o)
O que tudo isso tem a ver com a Consciência de Krishna ? Tudo a ver.
Sempre que recebermos uma informação ou presenciarmos um evento, podemos separá-lo em seus componentes, analisar e identificar o essencial e as impurezas, fazer uma comparação com o que conhecemos como padrão - guru-sastra-sadhu - e chegarmos a uma conclusão, siddhanta (siddha = perfeito, anta = final). Para que nossa conclusão, nossa decisão não seja apenas filosoficamente árida, fria, ela precisa ser recheada com amor a Krishna ou plenamente bhaktisiddhanta !
Esta é a maneira dos devotos de Sri Krishna, com comportamento e atitude exemplares. Krishnadas Kaviraja Goswami enumera vinte e seis boas qualidades de um Vaishnava, dentre as quais temos: o devoto é muito bondoso para com todos, ele não faz de ninguém seu inimigo, ele é veraz, é suave, sempre limpo, pacífico, muito manso, sempre respeitoso para com todos, é misericordioso, amigável...
Ao estarmos cientes e imbuídos deste conceito mais exato, poderemos proceder à análise ou estudo comparativo de quaisquer doutrinas, idéias, religião ou filosofia. Devemos tomar uma atitude de respeito, bondade, compreensão, uma atitude inclusivista, e, assim,livres da inveja e da tendência mesquinha de falar mal das pessoas podemos sim exercer a crítica em sua dimensão plena, pois nosso espírito crítico deve ser antes analítico que maledicente.
Espero que todos estejam bem... HARE KRISHNA !
Eternamente seus,
Jayadeva das
aqui, em Recife.
Jaya M. Rama Shakti
Dandavats
Srila Prabhupada ki jaya!
Sri Guru e Gouranga ki jaya!
Se somos impedidos de estudar a fundo a mensagem de Prabhupada por sermos sudras de nascimento, pela mesma lógica deveríamos estar dispensados de seguir qualquer princípio regulativo, pois o único dharma do sudra é servir às castas superiores.
Não vejo como sua afirmação possa se manter sob essa perspectiva.
Prabhupada não escreveu tantos livros para que somente absorvessemos informações sem saber relacioná-las e aplicá-las.
Se estivéssemos num movimento de babajanandis, concordo plenamente que nos bastaria nos reunir diariamente para fazer nossas confissões de fé. Mas somos pregadores, e como tal nos defrontamos de todos os tipos, inclusive aquelas para as quais argumentos de autoridade tipo "em boca fechada não entra mosquito" não convencem.
Devem os nos lembrar que o Senhor Caitanya, quando se dedicava simplesmente a cantar os santos nomes em êxtase, era menosprezado por muitos, que O tinham como um louco. Até seus parentes não lhe davam tanta importância e chegaram a admoestá-lo por Seu canto sem referência às tradições vaishnavas. Ele era visto como um sentimentalista.
Por isso, Ele tomou sannyasa. Depois, passou a ser respeitado em toda a Índia ao apresentar suas conclusões para os membros mais cultos da comunidade espiritualista, inclusive descendo às minúcias do academismo ao dar 64 interpretações diferentes para o verso atmarama do Srimad Bhagavatam.
Nós não podemos nos comparar ao Senhor Caitanya, mas, guardadas as devidas proporções, como seus seguidores e de Srila Prabhupada, temos o dever de nos preparar para apresentar a consciência de Krsna não somente para as pessoas de mentalidade simples, mas para todos.
É claro que nem todos os devotos têm a vocação para o academismo e se sentem felizes praticando a consciência de Krsna de forma singela. Mas não devem menosprezar aqueles que são aditos à intelectualidade e a usam no serviço a Krsna.
O Gita enumera quatro tipos de devotos que buscam a Krsna. Dentre eles, aquele que busca conhecimento é considerado o melhor. O conhecimento tem muitos aspectos, como o conhecimento dedutivo e o indutivo, bem como muitas ferramentas, como a lógica, da qual Caitanya era professor, hermenêutica, e assim por diante. No Gita também se afirma que os homens comuns seguem os passos de um grande homem. Se formos capazes de demonstrar para os setores mais inteligentes da sociedade que a consciência de Krsha não é mais uma entre tantas religiões dogmáticas, estaremos abrindo caminhos para a consolidação do nosso movimento.
Também devemos ser muito cuidadosos em não cair na arrogância de achar que já entendemos o nosso guru. O guru está acima dos limites da nossa cognição. Por isso, afirmações simplórias como "primeiro o que Prabhupada disse" podem velar o sentimento de acharmos que sabemos e entendemos o que Prabhupada disse, e os demais não.
Prabhupada não tem só uma afirmação geral para tudo, e isso nós podemos ver em seus darshans, cartas e escritos.
Por isso, temos de analisar com inteligência o contexto a que se referem. Sim, inteligência. Inteligência, assim como dinheiro, não é ruim em si mesma, e especialmente quando é aplicada no serviço a Krsna é desejável. A inteligência é controlada por Sri Pradyuma, uma das primeiras expansões de Krsna. Portanto, seu uso aplicado ao sidhanta faz parte da nossa tradição.
Temos também que distinguir o que é um enunciado informal e um enunciado formal, acadêmico.
Lembro-me que em 1985 fui convidado por SS Hrdayananda Goswami a ajudá-lo na elaboração de uma obra que se chamaria "Espiritualismo Dia lético", na qual a filosofia gaudyia-vaishnava seria comparada aos principais sistemas filosóficos ocidentais.
Na época, ele me disse que fora instruído por Srila Prabhupada a fazer isso porque Srila Prabhupada havia se manifestado sobre esses sistemas em diálogos com seus discípulos, mas não havia precisão acadêmica, porque ao ser inquirido sobre sua opinião sobre algum ponto ou filósofo, Prabhupada perguntava qual era a tese que esse filósofo defendia, para então fazer um comentário. Ocorre que os discípulos nem sempre eram precisos em apresentar os pontos desses sistemas, chegando inclusive a atribuir a um filósofo conclusões e pensamentos de outro. Por isso, havia a necessidade de uma obra de maior precisão acadêmica.
Prabhu Hayagriva antecipou-se ao trabalho de Hrdayanandaq Goswami, publicando aqueles diálogos, o que fez com que o projeto fosse até certo ponto esvaziado. Eu cheguei a ir aos Estados Unidos com minha família para trabalhar nesse projeto, mas ele foi cancelado.
Essa história demonstra que Prabhupada jamais se colocou na posição de conhecedor absoluto de tudo, e que ele mesmo detectou a necessidade de que houvesse uma abordagem da nossa filosofia para o público acadêmico.
Por isso, com todo o respeito à senhora e aos demais que acham que não precisamos nos dedicar a um estudo acadêmico da nossa filosofia, creio que todos os demais que não compartilham dessa visão, se não forem ouvidos, devem pelo menos ser respeitados, evitando-se rotulações como aquelas que dizem que estão se desviando, que perderam a fé, etc.
seu servo
Advaya Dasa (ACBSP)