Caros devotos,
Jaya Srila Prabhupada.
Uma carta com bênçãos que enviei a um casal gay está causando um extraordinário montante de controvérsia, e, em razão disso, estou escrevendo esta a fim de esclarecer a minha compreensão deste tópico e a intenção da minha carta.
No Bhagavad-gita 17.15, o Senhor Krishna declara que “a austeridade da fala consiste em proferir palavras que sejam verazes, prazerosas, benéficas e que não agitem outros...”.
Eu claramente fracassei em alguma dimensão neste dever como prescrito pelo Senhor Krishna visto que a natureza de algumas respostas foi áspera e insultuosa. Eu sinceramente desculpo-me com os devotos por esta evidente falha.
Fui acusado de fomentar assuntos políticos ligeiramente velados, ou de ter intencionado impor sobre a ISKCON uma realidade social nova e factual em relação a relacionamentos homossexuais. Aos devotos, mesmo aos incrédulos, declaro neste que não intencionei nada disso. Em minha carta, como explicarei em detalhes, tentei buscar, aparentemente sem sucesso, uma abordagem que não causasse grande transtorno na ISKCON.
A grande agitação produzida pela minha carta demonstra que falhei em meu intento, pelo que peço, mais uma vez, desculpas.Sou plenamente ciente de que não tenho o direito dentro da ISKCON de unilateralmente estabelecer uma política para este tópico, e minha intenção não foi obter por preempção, tampouco pressionar ou coagir, uma decisão do GBC sobre o assunto.
Ironicamente, minhas visões pessoais a respeito da homossexualidade são vistas pelo mundo em geral como bastante conservadoras,e, em geral, desapontam imensamente os ativistas dos direitos gays. Como declarado em um artigo anterior que escrevi sobre este tópico:
1. Não advogo, nem realizo, casamento entre gays. Aceito a visão de Srila Prabhupada (e, diga-se de passagem, a do renomado músico gay Elton John) de que o casamento, historicamente, foi, e deve continuar sendo, uma instituição heterossexual.
2. Embora a ciência prove que um segmento da população nasce com uma orientação homossexual, e embora a homossexualidade seja, portanto, natural para aquele grupo; não acredito que aquilo que é natural para um indivíduo ou para um grupo de indivíduos seja necessariamente natural para a sociedade.
Busco, por conseguinte, um equilíbrio que respeite a natureza homossexual genética e inevitável de um indivíduo bem como o direito natural da sociedade como um todo de privilegiar a heterossexualidade como a sua norma social.
Em minha carta, que se endereçava a não-devotos de boa formação,comecei dizendo:
“Nosso amor um pelo outro é reflexo do amor de Deus por nós. Assim, a perfeição de toda relação é ver Deus um no outro”.
Visto que o amor de Krishna por nós é puro, acreditei que devotos sérios entenderiam, já ao começo do meu discurso, que eu estava falando de amor espiritual, e não de luxúria mundano-corporal. Acreditei que veriam que eu estava encorajando as pessoas envolvidas a verem Krishna um no outro, o que os conduziria à completa transcendência do conceito corpóreo devida.
Em seguida, eu declarei:
“Que Deus abençoe [estas] almas devotas de modo que elas se comprometam uma com a outra no espírito do amor de Deus por elas. Que possam sempre aprazer a Deus através do amor verdadeiro que dedicam um ao outro”.
Claramente, aprazemos a Krishna por meio da renúncia de todas as atividades pecaminosas e desejos egoístas, e deixei isso bem claro para ambas as partes em conversas privadas. Em outras palavras, ofereci bênçãos não à gratificação sensorial deles, mas exatamente ao oposto: o abandonar de toda atividade não prazerosa a Krishna.
Eu me referi a eles como “almas devotadas” porque não acredito que uma pessoa geneticamente ligada à homossexualidade seja, necessariamente, “bestial” ou “demoníaca”, como alguns aparentemente sentem.
A história nos mostra irrefutavelmente que muitas almas sinceras, nascidas com orientação homossexual, empenharam-se sinceramente para servir à missão de Srila Prabhupada e para despertar seu adormecido amor por Krishna apesar de um pesado fardo privado e social. Não sou capaz de ver tais almas, como alguns aparentemente fazem, como aberrações repugnantes voluntariosa e obscenamente ofendendo Deus e a natureza através de sua composição genética.
Estou bastante ciente das afirmações de SrilaPrabhupada sobre este assunto e estou seguro de que um conhecimento maduro e meticuloso do conteúdo e do estilo de pregação de Prabhupada possibilita uma interpretação mais moderada dessas afirmações. Sinto estar bem preparado para defender logicamente esta visão embora eu não vá insistir aqui neste assunto já discutido em outras oportunidades.
Também não vou ao outro extremo de negar que a homossexualidade,de certas maneiras, é problemática dentro de uma sociedade espiritual. O fardo especial dos devotos nascidos com essa condição só pode ser plenamente eliminado por meio da iluminação espiritual dos mesmos.
No último parágrafo da minha carta, eu disse:
“Por meio de tal amor espiritual verdadeiro, que eles possam ser, um para o outro, fonte de inspiração e felicidade espirituais. Que seu relacionamento os conduza paciente e constantemente de volta ao nosso verdadeiro lar no mundo espiritual, onde todos os relacionamentos tornam-se eternos e perfeitos”.
Acreditei que os devotos reconheceriam a linguagem de amor espiritual verdadeiro como referente à consciência de Krishna pura, muito além da concepção corpórea de vida, muito além de qualquer forma de sexualidade. E, claramente, uma relação que conduz as pessoas de volta ao mundo espiritual tem de ser uma relação que, através de devoção e sacrifício genuínos, torna-se plenamente prazerosa a Krishna. Nenhuma palavra em minha carta aborda assuntos políticos ou sociais correntes relacionados à homossexualidade.
Nenhuma palavra em minha carta reivindica algum status legal para casais homossexuais, seja casamento ou união civil. Como instrutor Vaisnava, não operador político, nem elaborador de política renegado, orei a Krishna para que Ele guie duas almas sinceras a Seus pés de lótus.
Que expressei este desejo sincero de modo não suficientemente sensível à concernência de outros Vaisnavas sinceros, eu admito. Lamento verdadeiramente esta falha de minha parte. No entanto, que agi com motivos políticos, nego veementemente.
Tomemos esta situação como uma oportunidade para discutirmos seriamente como melhor podemos preservar nossos princípios sagrados: tanto nosso rigor moral como também nossa profunda compaixão.
Com os melhores votos,
Seu servo,
Hridayananda das Gosvami